O Brasil, assemelha-se a um grande mosaico formado por milhões de pequenas peças que representam cada um de nós. Somos um povo constituído pela mistura de vários grupos humanos formados por pessoas nascidas no Brasil e em muitos outros países e continentes, as quais adotaram a nacionalidade brasileira. Pessoas com características físicas diferentes, sotaques e costumes diversos.
A atuação dos padres missionários contribuiu fortemente para o uso das línguas indígenas, uma vez que encontraram muitas dificuldades ao usar a língua portuguesa na catequese dos índios.
Somente na segunda metade do século XVIII, com a implantação do uso da língua portuguesa por meio de decreto do governo de Portugal, é que se obrigou o ensino da gramática portuguesa no Brasil.
A contribuição indígena à cultura do estado de Santa Catarina é muito expressiva em diversos aspectos, principalmente, quanto à influência nos hábitos alimentares e em muitas expressões e vocábulos incorporados ao da região, como arara, maracujá, paca, sabiá, samambaia, jaboti, jacaré.
Houve também uma grande influência das culturas africanas no modo de falar do Brasil, principalmente nas regiões onde o trabalho escravo foi mais marcante. Um exemplo dessas influências são as inúmeras palavras de origem africana que foram incorporadas ao nosso idioma como: dengo, cafuné, mulambo, samba, moleque, batuque, cachimbo, angu, caçamba, quitute, camundongo, cafajeste, mocotó, jiló, mucama, caatinga, tanga, entre muitas outras.
A base da vida religiosa brasileira foi também bastante diversa. Povos de culturas e origens diferentes, convivendo em um mesmo espaço, produziram uma mistura de crenças e religiões.
Os padres jesuítas e outras ordens religiosas que vieram para o Brasil tentaram, com a catequese, diminuir os conflitos existentes entre os portugueses e os indígenas. Porém, ao criar escolas para crianças indígenas, ensinavam também muito da cultura europeia.
Na pintura de Benedito Calixto, pode-se observar a atuação dos padres missionários com os indígenas no Brasil.
CALIXTO, Benedito. Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu. 1853-1927. Óleo sobre tela. Museu Paulista da USP.
CALIXTO, Benedito. Anchieta e Nóbrega na cabana de Pindobuçu – Imagem em Alta Resolução
Já entre os africanos, que foram trazidos como escravos para o Brasil, a prática de suas religiões de origem era uma forma de resistir à escravidão e continuar com sua cultura no Brasil. Proibidos de praticar suas crenças, eles acabaram adaptando seus cultos. Iemanjá, a mãe de todos os orixás, passou a ser também Nossa Senhora da Conceição. Oxalá, que originalmente era o orixá da criação, passou a ser conhecido como Nosso Senhor do Bonfim.
No Brasil colonial, a mais popular de todas as festas era realizada em louvor ao Divino Espírito Santo, mesma festa que ocorria em Portugal desde o século XIV. Em tal ocasião, era coroado um imperador que desfilava pelas ruas com sua corte.
Vale lembrar que os africanos escravizados no Brasil encenavam a mesma história, semelhante a essa festa. A Festa do Espírito Santo ou Festa do Divino, como também é conhecida, teve uma presença mais forte em Santa Catarina a partir de 1748, com a chegada dos povoadores açorianos que difundiram essa devoção.
Ainda hoje existem algumas associações religiosas denominadas Irmandades do Espírito Santo que, juntamente com a Igreja Católica, são responsáveis pela organização dessas festividades.
Da mesma forma, as raízes africanas podem ser identificadas em danças como o frevo, o samba, o maracatu, e também em muitos de nossos instrumentos musicais, como cuíca, berimbau e tambor.
Ao longo da costa brasileira, a culinária está impregnada da influência dos povos africanos, destacando-se o uso do leite de coco, da pimenta-malagueta e da banana em vários pratos, assim como nos diferentes modos de preparo de frango, peixe e doces. As comidas preparadas com produtos vindos do mar, como camarão, marisco, berbigão e, principalmente, peixes, por exemplo, fazem parte da cultura alimentar catarinense e costumam ser relacionadas com a preferência alimentar dos descendentes de açorianos e também daqueles que vivem próximos ao litoral.
Já na região serrana, durante o início da colonização e mesmo entre os colonos imigrantes, desenvolveram-se vários costumes ligados à atividade da agricultura, como levar um pequeno farnel para ser consumido ao longo do dia, composto geralmente de pão, linguiça e café.
Na atualidade, é comum encontrarmos nas regiões de grande fluxo turístico os chamados cafés coloniais, herança inspirada na “hora do frühstück”, intervalo para descanso praticado pelos imigrantes alemães durante o trabalho na roça. No café colonial podem ser degustados vários tipos de pratos típicos, incluindo bolos e tortas recheadas, café, leite, sucos, vinhos, bolos, cucas, schmier (doce de passar no pão), queijos, presuntos, salames, polenta, linguiças, entre outros.
Inúmeros pratos que caracterizam a cultura culinária de origem alemã, como o eisbein (joelho de porco), o chucrute – também conhecido como sauerkraut (repolho azedo) –, o apfelstrudel (assado de maçã feito com massa fina e enrolado como rocambole), o ente mit rotkohl (marreco recheado com repolho roxo) compõem as variadas influências na alimentação do povo catarinense.
Já o uso da mandioca, do milho, do feijão, da batata-doce e de outros alimentos são influência das culturas indígenas. Os índios carijós, que habitavam as costas de Santa Catarina antes da chegada dos europeus, em 1500, já faziam farinha de mandioca.
As tradições do Natal no estado de Santa Catarina têm forte influência dos portugueses vindos dos Açores, que nos legaram o costume do peru assado e as rabanadas (fatias de pão dormido, embebidas em leite e fritas).
A Festa de Reis é um evento popular de origem religiosa que, com forte influência da cultura portuguesa é realizada em diversos locais do Brasil, ainda na atualidade. Festividade do tempo de Natal, busca relembrar a visita que os três reis magos fizeram ao menino Jesus, recém-nascido, e costuma ocorrer da segunda quinzena de dezembro até o dia 6 de janeiro.
Em Santa Catarina é comum que, por ocasião dessas comemorações, grupos de amigos ou vizinhos se reúnam e decidam qual o repertório musical a ser cantado, acompanhado por violão, acordeão e chocalho, na visita às casas. Costumam cantar de porta em porta e são então saudados pelos donos, sendo convidados a entrar.
Em Florianópolis, na Capela do Divino Espírito Santo encontra-se a mais antiga dessas irmandades, fundada em 1773.
Em Florianópolis, na Capela do Divino Espírito Santo – Imagem em Alta Resolução
A bandeira do Divino e os músicos. Na frente do cortejo, alguém leva uma bandeira vermelha, que ao centro tem uma pomba branca para representar o Espírito Santo.
A bandeira do Divino e os músicos – Imagem em Alta Resolução
Mosaico: pavimento de ladrilhos ou pequenas pedras coloridas que, pela sua distribuição, formam desenhos. Conjunto de elementos justapostos ou conglomerados.
Sotaques: pronúncia característica de um indivíduo, de uma região, etc.
Mulambo: farrapo, pano velho, rasgado e sujo.
Angu: papa espessa de fubá ou de farinha de mandioca.
Orixás: divindades cultuadas pelos iorubas, trazidas para o Brasil pelos africanos; também são conhecidos como guias.